Dilma Rousseff defende usinas hidrelétricas com grandes lagos de reserva

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A presidente do Brasil, Dilma Rousseff, manifestou sua preferência pelo uso de usinas hidrelétricas com grande lagos de reserva. Essa declaração foi feita no Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas, realizado no Palácio do Planalto em 5/6/2013. Essa preferência vai contra os últimos projetos aprovados no Brasil e da tendência mundial do uso de usinas baseadas em fio d’água, ou seja, hidrelétricas que utilizam o fluxo natural do rio (run-of-river). Essas hidrelétricas não geram grandes impactos socioambientais, pois mantém a fauna e flora da região e não existe a necessidade de deslocamento de comunidades para outros locais, preservando a cultura e costumes locais. O argumento da presidente é que o uso de hidrelétricas baseadas em fio d’água exigirá a expansão da geração térmica para atender a demanda do país, que é mais poluidora em termos de emissão de gases do efeito estufa.

Sem dúvida é uma posição polêmica. A viabilidade de novas usinas na região amazônica, como as hidrelétricas de Jirau e Santo Antônio, em Rondônia, e de Belo Monte, no Pará, só foram para frente porque o governo concordou em adotar o modelo a fio d’água.

Embora, o fato de a usina se basear em turbinas tipo fio d’água não significa que as áreas alagadas são pequenas. Os exemplos emblemáticos dessa situação são as duas hidrelétricas que o governo pretende erguer no rio Tapajós, no Pará. A usina de São Luiz do Tapajós, estruturada para gerar 6.133 megawatts (MW) no modelo de fio d’água – potência inferior apenas a de Itaipu, Belo Monte e Tucuruí – envolve a inundação total de 1.368 quilômetros quadrados de floresta. Trata-se de uma área quase do tamanho da cidade de São Paulo e que equivale a duas vezes e meia a inundação que será causada por Belo Monte. Na usina do rio Xingu, porém, a potência será de 11 mil MW.

Fato que devemos considerar é que algumas simulações sobre mudanças climáticas indicam que a partir de 2010 à precipitação aumentará no Sul do Brasil, assim como na Amazônia ocidental e na região litorânea entre Amapá e Ceará. Reduções nas chuvas são esperadas no sul e no centro da Amazônia, no Centro-Oeste do Brasil e na maior parte do Nordeste do Brasil, enquanto o número de dias úmidos consecutivos tende a cair na maior parte do Nordeste do Brasil, Centro-Oeste do Brasil e oeste e sul da Amazônia. Em 2030, o padrão dominante é uma redução na quantidade total de chuvas e no número de dias úmidos na América do Sul tropical, com uma tendência para aumento das chuvas extremas em regiões como a Amazônia ocidental e Sul e Sudeste do Brasil. A redução projetada das chuvas extremas é consistente com um aumento do número projetado de dias secos consecutivos. Entre as causas apontadas estão o desmatamento da Amazônia. Essas informações constam no relatório sobre Mudanças Climáticas e Eventos Extremos no Brasil produzido pela Fundação Brasileira para o Desenvolvimento Sustentável (FBDS). Essas previsões estão se confirmando com a atual seca na região Nordeste, embora os estudos apresentem um grau de incertezas.

A polêmica continua, é melhor inundar ou correr o risco de desmatamento de grandes áreas na Amazônia. Se inundar em áreas que são previstas secas será uma maneira de mitigar seus efeitos, se inundar em áreas que estão previstas aumento pluviométrico gerará um impacto negativo para as comunidades ribeirinhas.

Também é fato que a construção de grandes usinas hidrelétricas demora mais para serem construídas. Isso sem contar com os problemas ambientais e conflitos com as populações locais que apresentam um histórico de atrasos. A economia brasileira não pode esperar tanto tempo por novas ofertas de energia.

A demora de oferecer energia pode incentivar a mudança em massa de empresas brasileiras para o Paraguai que está oferecendo energia 70% mais barata que no Brasil. O Paraguai está usando sua parte da energia de Itaipu para acelerar o desenvolvimento de sua indústria. A Argentina, com a terceira maior reserva de xisto betuminoso do mundo, está pronta para a produção do gás de xisto que permitirá sua autossuficiente energética e preços baixos de energia. Embora, a política na Argentina possa indicar outra direção. Esse movimento de mudança da indústria, semelhante ao México em relação aos Estados Unidos usando os acordos de livre comércio, é um caminho sem volta. Esse é um claro exemplo da importância da geopolítica energética no mundo globalizado.

A declaração da presidente também cria uma dúvida ainda maior sobre o destino das PCHs (pequenas centrais hidrelétricas) que são baseadas em fio d’água. O setor já enfrenta uma crise devido ao seu custo de geração de energia ser superior a da geração eólica. Vários projetos estão parados aguardando novas regras de leilões para o setor.

Vamos torcer que as declarações da presidente Rousseff estejam baseadas em fatos concretos que indiquem uma posição positiva para o futuro do Brasil.

Por Eduardo Fagundes

Eduardo Fagundes é fundador da nMentors. Engenheiro, professor, pesquisador e empreendedor. Como executivo (C-Level) desenvolveu projetos de tecnologia na Alemanha, Argentina, Estados Unidos, Índia, Inglaterra e Itália. No Brasil, lidera projetos complexos de tecnologia e sustentabilidade para os setores de engenharia, manufatura, serviços e energia. Atua como coordenador acadêmico em projetos educacionais avançados de capacitação profissional.