Não restam dúvidas que a inteligência artificial é um ponto chave na transformação digital das organizações, criando uma alta demanda por profissionais especializados. As instituições de ensino buscam atender a alta demanda com cursos presenciais, limitados por questões físicas, e cursos online (EaD), que atendem a uma grande quantidade de alunos, geograficamente distribuídos. Dada tanta oferta de cursos sobre inteligência artificial, o desafio é selecionar, entre os nacionais e do exterior, qual a melhor opção. Existem três tipos de teorias sobre cursos online: independência e autonomia dos alunos; industrialização do ensino; e, interação e comunicação. Para o ensino de IA é fundamental, como uma área que requer uma construção lógica-matemática, uma forte interação com professores experientes. A seleção deve ser feita pelo modelo de ensino que ofereça maior interação entre professor, alunos e colegas.
A Internet levou o EaD a milhões de pessoas no mundo
Nas últimas décadas, a Internet viabilizou o ensino a distância (EaD) para milhões de pessoas. Isto permitiu que instituições de ensino tradicionais e startups de ensino (EdTech) criassem cursos online em várias áreas do conhecimento. A portaria do Ministério da Educação nº 2.117:2019, autorizou as instituições de ensino de engenharia e saúde (exceção de medicina) a terei até 40% da carga horário em EaD (Ministério da Educação, 2019). A expansão dos dispositivos móveis abriu uma perspectiva para o ensino a distância, chamado de mLearning, permitindo um acesso mais amplo da população ao EaD. Uma pesquisa mostra que 66% de todos os brasileiros são usuários de internet móvel (Pag|Brasil, 2019). A pandemia do Covid-19 expôs as vantagens do EaD para milhões de pessoas, com várias entidades de ensino liberando seus cursos, gratuitamente, para a comunidade. Várias entidades de ensino tradicionais tiveram que adotar o EaD como solução de continuidade de negócios. Isto deve gerar um impulso ainda maior do EaD no cenário educacional.
A interação entre professores e alunos é fundamental para a construção de conhecimento
As premissas básicas para adquirir habilidades e que a informação seja transmitida e que o aluno tenha condições de construir o conhecimento. As instituições de ensino devem garantir que as duas premissas sejam atendidas para certificar um aluno tenha adquirido habilidades suficientes para atender as demandas de mercado.
Existem três grupos de teorias sobre EaD
Alguns autores afirmam que o conhecimento é construído segundo as teorias interacionistas e que é possível o EaD atender a este requisito (VALENTE, MORAN, & ARANTES, 2011). É possível classificar as teorias sobre o EaD em três grupos: (1) Teorias de independência e autonomia; (2) Teorias de industrialização do ensino; e, (3) Teorias de interação e comunicação.
As teorias de independência e autonomia, consideram que o aluno tem condições, a partir das informações transmitidas, construir o conhecimento. A independência e autonomia atribui ao aluno maior responsabilidade pelo aprendizado. O uso de tecnologias de informação (TI), permite que os professores consigam a interação com processos autônomos, como jogos interativos, o que se denomina “teoria da distância transacional”.
As teorias de industrialização do ensino, consideram que as instituições de ensino tenham capacidade de produzir conteúdo e processos automatizados para a formação em massa. O planejamento sistemático e a otimização dos recursos permitem atingir os objetivos econômicos e educacionais.
As teorias de interação e comunicação foca no acompanhamento individual dos alunos, apontando a interatividade entre professor, alunos e entre os colegas como pontos importantes na construção do conhecimento. A conversão didática pode acontecer de várias formas, como em chats, fóruns de discussão e troca de mensagens entre o professor e aluno ou em grupo. Isto permite o envolvimento dos alunos em atividades intelectuais que os fazem experimentar ideias, refletir, comparar e aplicar o julgamento crítico sobre o que é estudado.
A interatividade é importante para fixar conceitos nas mentes dos alunos
A interatividade é importante para fixarmos conceitos em nossas mentes, como pensava Kant, é a forma de resolver impasses entre as visões empiristas e racionalistas. Nas investigações de Piaget, foi identificado três tipos de conhecimento construídos pelos indivíduos: conhecimento físico (construído pela ação direta do sujeito sobre o objeto), conhecimento lógico-matemático (fruto da reflexão sobre as informações coletadas no nível prático, gerando a conceituação) e o conhecimento social-arbitrário (formado na interação com outras pessoas na sociedade) (VALENTE, MORAN, & ARANTES, 2011).
O ensino de inteligência artificial requer a construção lógico-matemático por suas características abstratas, tornando necessária uma forte interação de professores experientes.
O desafio da aprendizagem de inteligência artificial no ensino industrializado é a capacidade de interação dos professores com os alunos em classes muito grandes. Nestas situações, os professores interagem com os alunos em momentos pontuais, como em chats, fóruns de discussão, e-mail ou sessões online síncronas, limitando a capacidade de interação com todos os alunos de forma mais intensa, focando apenas naqueles que buscam maior interatividade.
O ensino presencial de inteligência artificial tem algumas vantagens sobre o EaD por ter classes menores e, principalmente, onde o professor pode propor o desenvolvimento de um projeto ao longo do curso, permitindo o engajamento e colaboração dos alunos. Por outro lado, o ensino presencial é limitado em abrangência geográfica, um importante inibidor para a formação de especialistas para atender as demandas do mercado.
A vantagem do ensino presencial de inteligência artificial deve ser levada para o EaD.
Um modelo de EaD que atende os requisitos de ensino para inteligência artificial é do estilo “boutique”, tendo como base o desenvolvimento de um projeto comum entre os alunos, com forte interação entre o professor e os alunos, em classes online de até 20 alunos, número máximo para a coordenação e interatividade de um professor em assistente.
O modelo “boutique” permite o acompanhamento individual de cada aluno pelo professor, reforçando a atenção em alunos com dificuldades para entender algum tópico. Cria um sentimento de equipe entre os alunos, facilitando a colaboração entre eles e, consequentemente, maiores oportunidade de aprendizado. O ensino, tendo como base um projeto a ser construído, proporciona o acompanhamento de métricas de desempenho, deixando claro a necessidade do esforço necessário e conhecimentos adicionais para completar o projeto.
O papel do curador e professor no EaD
O curador de EaD deve produzir conteúdo que atenda às necessidades e demandas dos cursos e perfil dos alunos (persona). O professor, muitas vezes o próprio curador, deve encorajar e se aproximar dos alunos, agindo para ( (CORRÊA, 2007):
- Auxiliar os alunos com informações relevantes para o tema em estudo;
- Estabelecer o diálogo com os alunos;
- Encorajar os alunos no desenvolvimento dos estudos, tarefas, fóruns de discussão e contribuir com ideias e comentários;
- Capacitar os alunos a ter intervalos de reflexão e anotações de conceitos e informações importantes;
- Organizar o texto conforme a sequência de construção do conhecimento e desenvolvimento de suas competências.
No futuro as máquinas com inteligência artificial assumiram o papel do professor na interatividade
É razoável pensar que em breve, a interatividade com o aluno seja realizada por máquinas de inteligência artificial, atendendo a maioria dos requisitos para um aluno construir o conhecimento lógico-matemático para o aprendizado de inteligência artificial. Porém, para chegar neste estágio precisamos de engenheiros especializados para construir estas máquinas, que devem ser ensinados com os recursos atuais.
Referências
CORRÊA, J. (2007). Educação a distância: orientações metodológicas. Porto Alegre: Artmed.
Ministério da Educação. (11 de 12 de 2019). PORTARIA Nº 2.117, DE 6 DE DEZEMBRO DE 2019. Fonte: MEC: http://www.in.gov.br/en/web/dou/-/portaria-n-2.117-de-6-de-dezembro-de-2019-232670913
Pag|Brasil. (2019). Brasil: Os números do relatório Digital in 2019. Fonte: Pag|Brasil: https://www.pagbrasil.com/pt-br/insights/relatorio-digital-in-2019-brasil/
VALENTE, J. A., MORAN, M., & ARANTES, V. A. (2011). Educação a distância : pontos e contrapontos. São Paulo: Summus.